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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

É possível controlar a bexiga hiperativa nos portadores de esclerose múltipla


BOTOX® tem se mostrado um tratamento eficaz, minimamente invasivo, com taxa de sucesso em aproximadamente 80% dos pacientes, além de evitar complicações renais sérias.
Apesar da imensa complexidade que envolve a esclerose múltipla como patologia e seu impacto em alterações na fala e na questão motora, outra síndrome que pode acometer até 96%[1] destes pacientes, é a bexiga hiperativa. Mas, o tratamento com BOTOX® tem representado uma alternativa eficiente com uma taxa de sucesso em torno de 80% dos casos, além de um baixo índice de efeitos adversos².
A bexiga hiperativa neurogênica tem origem em problemas neurológicos, como a esclerose múltipla, e geralmente ocorre porque tais doenças provocam perda do controle de funcionamento da bexiga e dos esfíncteres. Além do impacto na qualidade de vida das pessoas, nos casos mais graves, pode causar a perda da função renal.
Recentemente, BOTOX® (toxina botulínica tipo A) foi aprovado nos Estados Unidos para o tratamento da bexiga hiperativa, sendo que a ANVISA já havia aprovado seu uso no Brasil em 2009. BOTOX®, marca comercializada pela Allergan, é a única toxina botulínica aprovada no país para esta indicação e, hoje, representa um grande avanço para o tratamento da doença.
“A toxina botulínica tipo A não trata as causas da doença, mas auxilia para que os sintomas sejam amenizados e com isso o paciente possa readquirir a sua qualidade de vida, ou seja, ter menos limitações em suas atividades ditadas pelos problemas urinários. Além disso, é importante ressaltar a importância do trabalho multidisciplinar, que tem como objetivo principal o bem-estar do paciente como um todo”, explica José Carlos Truzzi, Doutor em Urologia pela Universidade Federal de São Paulo.
Com resultados muito favoráveis, o BOTOX® é injetado diretamente no músculo da bexiga, o que acaba causando um relaxamento do órgão e impede as contrações involuntárias, consequentemente, a perda de urina. A ação dura de 6 a 9 meses e a substância pode ser reaplicada após este período. Por ter ação local, os efeitos colaterais comuns aos medicamentos orais são evitados.
BOTOX® (toxina botulínica do tipo A)-A aplicação do BOTOX® ficou famosa no mundo todo pela indicação cosmética, no tratamento das rugas de expressão. No entanto, a substância foi descoberta para o tratamento terapêutico e aprovada em 1989 (pelo FDA, nos Estados Unidos), como uma alternativa para tratar o estrabismo.
No Brasil, a primeira toxina botulínica a ser aprovada foi o BOTOX®, em 1992 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para fins terapêuticos. Hoje, BOTOX® possui nove indicações aprovadas no país: distonia, estrabismo, blefaroespasmo, espasmo hemifacial, linhas faciais hipercinéticas, espasticidade, hiperidrose, bexiga hiperativa e migrânea crônica, popularmente conhecida como enxaqueca crônica.

Há pouco mais de 10 anos, a toxina botulínica do tipo A (Botox®), vem sendo testada em vários serviços urológicos do mundo, apresentando expressivos resultados benéficos no controle desta síndrome urinária. É obtida pela coleta da toxina elaborada pela bactéria causadora doBotulismo (Clostridium botulinum), doença que leva à paralisia muscular generalizada, podendo resultar na morte. Entretanto, quantidades ínfimas, esta toxina, largamente utilizada para atenuar rugas da face, não representam risco à saúde. Quando injetadas em 20 a 30 pontos da parede interna da bexiga, através de cistoscopia sob sedação (anestesia superficial), são capazes de inibir as contrações involuntárias, geradoras das incontinências de urgência. Traz a vantagem de ter um efeito prolongado- podendo chegar a um ano - antes de necessitar de nova aplicação. Em raros casos, ultrapassam os doze meses de ação, havendo relatos de até dois anos de êxito.http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=188804




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Como os hormônios contribuem para a saúde


Estriol na esclerose múltipla?

O estriol somente é sintetizado em quantidades significativas pelo corpo humano durante a gravidez, uma vez que é produzido pela placenta. Suas concentrações séricas nas mulheres'não grávidas' não sofrem grandes mudanças depois da menopausa, cujos níveis não são significativamente diferentes daqueles dos homens. Se, contudo, o 'estriol não conjugado' estiver anormalmente baixo na mulher grávida, isto pode ser indício de problemas no desenvolvimento do feto. O contrário também procede, muitas condições patológicas em mulheres grávidas podem causar desvios nos níveis de estriol e comprometer o bom progresso da gestação.
O estriol induz a normalização do epitélio vaginal, ajudando a restaurar a microflora normal e o pH fisiológico da vagina. Em consequência, ele aumenta a resistência das células epiteliais vaginais à infecções e inflamações. O estriol também pode ser aplicado topicamente para aliviar as mudanças atróficas genitais da pós-menopausa e a incontinência urinária.
Há alguns anos, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) descobriram que o estriol é capaz de reduzir notavelmente os sintomas da esclerose múltipla em mulheres grávidas (uma queda de 80% nas lesões inflamatórias do cérebro). Isso levantou a hipótese de que o estriol poderia beneficiar as vítimas da esclerose múltipla, agindo por meio de dois mecanismos: reduzindo a habilidade das células imunológicas em atacar o cérebro ao mesmo tempo em que tornaria o cérebro mais resistente a danos, caso alguma célula do sistema imunológico chegasse até o tecido. A terapia moderna da esclerose múltipla consiste no uso de anti-inflamatórios para aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença; esses anti-inflamatórios são administrados por inconvenientes injeções diárias, semanais ou mensais, dependendo da droga, além de serem extremamente onerosos. 'Além de ser muito mais barata, a terapia com estriol pode ser feita via oral e tem décadas de segurança por trás do seu uso' (Dr. Voskuhl, diretor do Programa de Esclerose Múltipla da UCLA).
Um estudo de dois anos, envolvendo sete institutos americanos, está sendo realizado nos Estados Unidos, em 150 mulheres, para averiguar a viabilidade do tratamento da esclerose múltipla com estriol.
Estradiol no homem
Estradiol é um hormônio sexual erroneamente designado 'hormônio feminino'. Presente também nos homens, o estradiol representa o maior estrógeno do corpo humano.
Ele não somente tem impacto crítico sobre a reprodutibilidade e o funcionamento sexual, mas também afeta outros órgãos, incluindo a estrutura óssea. Na mulher, o papel do estradiol é patente: age como hormônio do crescimento para o tecido dos órgãos reprodutivos, suportando o revestimento interno da vagina, glândulas cervicais, endométrio e o revestimento interno das trompas de Falópio, além de aumentar o crescimento do endométrio.
No homem, o efeito do estradiol (e estrógenos) sobre a reprodução masculina é complexa. Existem evidências de que a programação do comportamento sexual de animais adultos machos depende largamente da produção de estradiol no sistema nervoso central, a partir da testosterona, durante a vida pré-natal e a primeira infância. Também foi descoberto que as estruturas cerebrais sexualmente dimórficas de machos fenotípicos podem mudar para uma estrutura similar à das fêmeas quando são expostas ao estradiol. Alguns estudos clínicos ainda suportam a ideia de que níveis fisiológicos de estradiol também exercem efeito neuroprotetor ao longo da vida adulta.
Além disto, vale lembrar que a terapia de reposição de estrógenos parece reduzir a morbidade e a mortalidade por problemas cardiovasculares em mulheres pós-menopausadas, um benefício que pode estar relacionado à ação antioxidante dos estrógenos. Este mecanismo protetor possivelmente ocorre pelo aumento na produção de óxido nítrico (NO) pelo endotélio e à consequente melhora da hemodinâmica. Foi demonstrado que o aumento na liberação de NO pelas células endoteliais (e a vasodilatação induzida pela acetilcolina) pode ser causado pela redução na formação de radicais livres de oxigênio, uma propriedade dos estrógenos que não é inibida na presença de progestinas. Apesar dos benefícios inerentes à terapia de reposição hormonal, está claro hoje que a prescrição de estrógenos exógenos requer uma cautelosa análise da relação risco/benefício.
Fluocinolona acetonida com hidroquinona e ácido retinoico no melasma
Fluocinolona é um derivado sintético da hidrocortisona fundamentalmente usado na dermatologia para reduzir inflamação e aliviar irritação, podendo ser veiculado sob a forma de pomada, creme, solução, xampu e óleo.
Alguns estudos recentes avaliaram o uso de um creme convencional à base de hidroquinona 4%, ácido retinoico 0,05% e fluocinolona acetonida 0,01% - considerada um corticosteroide de baixa potência - no tratamento do melasma.
A análise dos resultados clínicos revela que a eficácia e os efeitos adversos produzidos pela tripla combinação são similares entre os estudos, provando não somente a boa eficácia da combinação dos três agentes, como também a sua segurança. Nos ensaios clínicos, a tripla combinação clareou os melasmas em 35%, versus hidroquinona 5%, em oito semanas em diferentes populações estudadas, inclusive brasileiros. Um estudo de longo prazo demonstrou que a eficácia e a segurança da tripla combinação podem ser constantes por um período tão longo quanto 360 dias. Melhora nos parâmetros de qualidade de vida também foi demonstrada em pacientes que utilizaram o creme com hidroquinona, ácido retinoico e fluocinolona acetonida, incluindo melhoras significativas na autopercepção.
O tratamento com os três agentes foi muito bem tolerado, apesar da ocorrência de alguns efeitos adversos que já eram esperados ao longo da ação da medicação. Telangiectasias são as preocupações mais frequentes quando do uso de corticosteróides, mas não foram relatados casos severos com a tripla combinação. Inclusive, uma vantagem relatada pelos autores de um dos estudos foi o efeito protetor sinérgico do ácido retinoico tópico em relação ao corticosteroide, reduzindo os efeitos da atrofia.
Sílvia Torres,
Farmacêutica
Fonte/ Informação
Ca – Canal Aberto, publicação da Pharma Nostra
Apoio: Fórmula farmácia de Manipulação
Rua da Paz, 162, centro, São Luís-Ma


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Esclerose Múltipla e Novas Drogas Modificadoras de Doença


I. Definição
É uma doença desmielinizante auto-imune do SNC que acomete a substância branca do cérebro, tronco encefálico, cerebelo, medula espinhal e tipicamente o nervo óptico.
Forma lesões características nestas áreas, chamadas de “placas”.

II. Epidemiologia
Depois do trauma, é a segunda maior causa de incapacidade neurológica em jovens. Acomete mais mulheres brancas (2:1) entre 35-50 anos.

III. Fisiopatologia
Ocorre agressão inflamatória auto-imune, principalmente por linfócitos T, sobre a bainha de mielina dos axônios do sistema nervoso central (produzida pelos oligodendrócitos, enquanto a mielina do sitema nervoso periférico é produzida pelas células de Schwann).
Isso leva à degeneração axonal permanente e as sequelas, após anos, tornam-se irreversíveis.

IV. Clínica
O tipo de apresentação mais comum é o remitente-relapsantecom aparecimento de disfunção neurológica focal durante os surtos, que podem vir de forma aguda ou subaguda.  Dois ou mais déficits provenientes de diferentes áreas do SNC são a regra e, em geral, há história pregressa de múltiplos surtos. As lesões são cumulativas.
Os sintomas iniciais mais comuns são:
  • Mono ou hemiparesia;
  • Déficit sensorial localizado (hipoestesia);
  • Dor ocular associada à perda de acuidade visual por neurite óptica retrobulbar (não pode ser detectada no exame de fundo de olho)
Outros sintomas são:
  • oftalmoplegia internuclear- diplopia
  • Ataxia
  • Vertigens
  • Disfunção vesical
Algumas características da doença são:
  • Sinal de Uthoff: o déficit de esclerose múltipla piora tipicamente com o aumento da temperatura corporal. Porém, isso tende a ser reversível.
  • Sinal de Lhermite: sensação de choque elétrico, que desce desde a região cervical até membros inferiores, desencadeada por movimentos de flexão-extensão da cabeça. É comum, mas também pode ocorrer nas doenças de medula cervical (ex. hérnia de disco, siringomielia, espondilose).
  • Em um período médio de 15 anos de doença, costuma haver evolução para disfunção motora grave.
Existe uma forma menos comum de evolução da doença, a forma progressiva, que pode ser primária ou secundária (após 20-40 anos tendo surtos).

V. Diagnóstico
O principal critério é: envolvimento de duas ou mais áreas distintas do SNC, com intervalo mínimo de 1 mês ou mais entre o surgimento de uma lesão e outra, na ausência de outras explicações para o quadro. Porém, deve-se demonstrar objetivamente a existência de déficit neurológico ou lesão, sendo assim a RNM e potenciais evocados têm grande utilidade. Dados que corroboram o diagnóstico são:
  • RNM: envolvimento de substância branca- geralmente periventricular, bilateral e simétrico, com acometimento típico do nervo óptico unilateral e presença de “placas” póstero-laterais na medula espinhal.
  • Exame de potenciais evocados: condução neuronal alterada em regiões características da esclerose múltipla (ex. campo visual alterado), porém sem relato de sintomas prévios.
  • Punção lombar: seu principal objetivo é realizar diagnóstico diferencial com outras condições, como as infecciosas. O liquor pode mostrar bandas oligoclonais de IgG, porém é um achado de baixa sensibilidade e especificidade.

VI. Tratamento
-Surtos:
Tratados com pulsoterapia de metilpredinisolona 1g IV por 3-5 dias, seguida de prednisona VO por mais 4-8 semanas. Isso controla o quadro agudo, mas não previne a progressão da doença.
-Terapia crônica – fármacos “modificadores de doença”:
            São drogas que reduzem as recidivas da doença. Envolve o uso de interferon-beta-1a,interferon-beta-1b ou acetato de glatiramer. O natalizumab, um anticorpo monoclonal contra o VLA-4, molécula que facilita entrada de leucócitos auto-reativos no SNC, é considerada a droga mais eficaz. Porém, é somente usada em casos refratários à terapia convencional, pois pode reativar o vírus JC, latente na maioria da população, levando à leucoencefalopatia multifocal progressiva. A mitoxantrona é um quimioterápico com propriedades imunossupressoras usado na forma progressiva da doença. É uma droga cardiotóxica, devendo o paciente ser monitorizado periodicamente.
            As novas drogas modificadoras de doença desenvolvidas e estudadas nos últimos anos são:
  • Fingolimod (Gilenya): ganhou o aval do FDA norte-americano como droga de primeira linha para o tratamento da EM. O Fingolimod é uma molécula que se liga aos receptores de esfingosina 1-fosfato, tais receptores são importantes para a migração de linfócitos no SNC. Isso reduz a taxa de recidiva dos ataques de desmielinização (prevenindo ou abrandando as sequelas dos surtos).
  • Dalfampridina (Ampyra): não atua diretamente no processo fisiopatogênico da EM, porém, exerce efeitos benéficos significativos nas regiões já acometidas pela desmielinização.É um bloqueador não-específico de canais de potássio que melhora a condução do impulso nervoso nos axônios de regiões desmielinizadas. Melhora a capacidade de contrair grupos de fibras musculares, melhorando a função motora periférica. Pode recuperar a capacidade de deambulação de alguns pacientes restritos à cadeira de rodas.
  • BG-12: Uma das 3 drogas já em fase 3 de testagem clínica, que são fortes candidatas à aprovação pelo FDA no ano de 2012. Têm como objetivo evitar ou interromper a neurodegeneração. O fármaco BG-12 parece reduzir a taxa de ataque da doença em 53%, reduzindo em 30% a incapacidade neurológica definitiva ao longo de 2 anos de uso. Além disso, também parece ser mais seguro que as demais drogas em uso na atualidade, com menor risco de complicações infecciosas como a leucoencefalopatia multifocal progressiva.
Contudo, a despeito desses avanços científicos, o manejo de pacientes com esclerose múltipla continua difícil na prática, e muitos pacientes ainda evoluem com sequelas incapacitantes. Segundo os especialistas, cada vez mais estamos próximos de uma realidade onde os portadores de EM, em uso das potentes drogas “modificadoras de doença”, poderão levar uma vida normal, sem qualquer sintoma da doença.

VII.           Bibliografia
  • Goldman’s Cecil Medicine, 24° edição.
  • FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; LONGO, Dan L.; BRAUNWALD, Eugene; HAUSER, Stephen L.; JAMESON, J. Larry; LOSCALZO, Joseph. HARRISON-MEDICINA INTERNA. Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2008, 17 Edição.
  • Michael J Olek, DOFrancisco Gonzalez-Scarano, MDJohn F Dashe, MD, PhDTreatment of relapsing-remitting multiple sclerosis in adults. Setembro 2011

Artigo elaborado para o Medportal  por Eduardo Carneiro Fagundes
Publicado no Medportal em 15/01/2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Remédio para esclerose múltipla ganha dose única diária


Medicamento oral ministrado uma vez ao dia é promessa de conforto para pacientes com a doença autoimune

Carolina Lenoir - Estado de Minas
Publicação: 16/01/2012 09:49 Atualização: 16/01/2012 10:09
São Paulo (SP) – O desenvolvimento de novos medicamentos para tratar doenças crônicas tem o objetivo, cada vez maior, de combinar praticidade e eficácia. Considerando o fato de o tratamento dessas enfermidades ser feito durante um longo tempo, muitas vezes a vida toda, dar opções mais confortáveis, com resultados mais relevantes, significa mais qualidade de vida para os pacientes. A chegada ao mercado brasileiro do primeiro medicamento oral para tratamento da esclerose múltipla é um exemplo desse cenário e abre caminho para outros remédios com esse mesmo perfil, em fases avançadas de estudos.

No mundo, cerca de 2,5 milhões de pessoas são afetados pela esclerose múltipla – sendo 30 mil no Brasil –, doença neurológica incapacitante mais comum entre adultos jovens com idade entre 20 e 40 anos. É mais frequente no sexo feminino, com uma proporção de três mulheres para cada homem. Antes do desenvolvimento do medicamento oral – que tem como princípio ativo a substância fingolimode e é administrado na forma de cápsulas de 0,5mg, em dose única diária –, as terapias eram realizadas com injeções periódicas, entre elas o interferon B-1a intramuscular. Além da questão da comodidade, a proposta do medicamento oral é proporcionar uma eficácia 52% superior na redução dos surtos em comparação ao interferon, o que retardaria a progressão da incapacidade neurológica.

O avanço, porém, tem um preço bastante salgado. O medicamento ainda será submetido à avaliação para ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como são atualmente os demais tratamentos para esclerose múltipla. Enquanto isso, será necessário desembolsar cerca de R$ 7 mil mensais. Valores à parte, a chegada do medicamento oral, indicado para o tratamento de primeira linha do tipo surto-remissão, é a estreia de uma nova classe chamada moduladores de receptores esfingosina-1-fosfato (S1PR), na qual há o aprisionamento seletivo dos linfócitos "doentes" nos gânglios linfáticos, conhecidos como ínguas, evitando que entrem no sistema nervoso central e destruam as células responsáveis pela transmissão dos impulsos elétricos para todo o corpo.

Trata-se, portanto, de um dos avanços relativos tanto ao tratamento quanto ao estudo da doença conquistados recentemente. De acordo com o neurologista Marco Aurélio Lana Peixoto, diretor-presidente do Centro de Investigação em Esclerose Múltipla da Universidade Federal de Minas Gerais (Ciem/UFMG), além dos medicamentos orais, há destaques também no universo dos injetáveis. “Temos experiências no Ciem com o natalizumabe, um injetável mensal que traz um outro grupo de anticorpos monoclonais e é indicado a pacientes que são intolerantes ou não respondem bem aos medicamentos de primeira linha. As respostas têm sido muito favoráveis em 14 meses de uso.” Por ser mensal, ele também diminui os incômodos característicos daqueles de administração diária. “Apesar de não serem medicamentos tóxicos, eles causam reações locais que podem levar à atrofia subcutânea, ou seja, depressões na pele.”

Em relação a novas pesquisas sobre a esclerose múltipla, o maior estudo genético já feito sobre a doença foi publicado na revista científica Nature e ajudou a lançar luz sobre uma curiosidade médica de longa data, mas com conhecimento relativamente recente. A pesquisa, realizada por um grupo internacional liderado por cientistas das universidades inglesas de Cambridge e de Oxford, confirmou que 23 regiões de genes, que já eram suspeitas, têm relação com a enfermidade. Outros 29 novos locais foram descobertos no levantamento, que envolveu 250 pesquisadores e 10 mil pacientes. “Esse estudo comprovou que há uma multiplicidade interessante de genes, que confirma a genética como um dos fatores importantes de causa da esclerose múltipla. Porém, a genética sozinha não explica tudo, ela tem que ser associada a outros fatores, como o ambiental”, explica Marco Aurélio.

Fernando Figueira, chefe do serviço de neurologia do Hospital São Francisco da Penitência, no Rio de Janeiro, e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, concorda. “Existe um jogo de fatores complexo que vai determinar a prevalência e a chance do indivíduo ter a doença. Há um componente genético, mas ele não é absoluto. Se fosse assim, o irmão gêmeo idêntico de um paciente também deveria ter a doença, mas o índice de compatibilidade é de 30%.”

Em relação ao meio ambiente, o lugar em que se vive tem grande importância. Um dos principais fatores é a exposição aos raios ultravioleta, especialmente nos primeiros anos de vida, que poderia criar uma espécie de proteção à doença. Outra hipótese é a da higiene, referente à exposição a bactérias e verminoses, o que explicaria o fato de países desenvolvidos ter maior incidência da doença. Outra descoberta recente refere-se ao vírus Eppstein bar, causador da mononucleose infecciosa. “Se a pessoa adquiri-la muito cedo na vida ou tiver uma manifestação muito agressiva, ela tem maior tendência à esclerose múltipla.”

Mesmo com avanços no entendimento e no tratamento da doença, há uma grande quantidade de enfermidades que ainda são frequentemente confundidas. “O médico deve descartar todas até chegar à esclerose e, ainda assim, fazer revisões periódicas desse diagnóstico”, afirma Fernando Figueira. Uma dessas doenças é a neuromielite óptica, bastante prevalente no Brasil e tratada erroneamente como esclerose múltipla. O principal problema é que os medicamentos usados para tratar a esclerose pioram a neuromielite, que tem testes específicos para ser diagnosticada e se difere da esclerose principalmente pelo tipo de lesão da espinha.

Memória - Santa Lidwina
A primeira descrição de um caso de esclerose múltipla possivelmente refere-se à Santa Lidwina de Schiedam, que viveu na Holanda nos séculos 14 e 15 (1380-1433). A doença da Santa Lidwina começou pouco depois de uma queda enquanto ela patinava, aos 16 anos. A partir desse episódio, Lidwina desenvolveu dificuldade a andar, cefaleias e dores violentas nos dentes. Três anos depois, suas pernas estavam paralisadas e surgiram problemas de visão. Durante os 34 anos seguintes, até sua morte, aos 53, sua condição piorou lentamente, apesar de ter apresentado períodos aparentes de remissão. Os sintomas da doença, descritos em vários textos, são consistentes com os da esclerose múltipla, bem como a idade de início dos sintomas, duração e evolução da doença.

http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2012/01/16/interna_tecnologia,272574/remedio-para-esclerose-multipla-ganha-dose-unica-diaria.shtml
Fonte: