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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Imunossupressão intensiva ou células tronco para esclerose múltipla e doenças imunológicas?


Com a publicação dos resultados dos tratamentos de doses altas de ciclofosfamida e dos mini-transplantes europeus no segundo semestre de 2006, aparece uma questão crucial: O que estará funcionando, a alta dose de quimioterapia ou a circulação de células tronco?
O que existe por trás desta pergunta não é tão complexo. Quando se faz uma dose de uma medicação como ciclofosfamida ou mitoxantrone, ou uma variedade de outros “citostáticos”, o que ocorre é uma agressão a vários tecidos do corpo humano. No caso de uma dose alta de ciclofosfamida, o tecido gastrointestinal é o primeiro agredido, causando as náuseas e vômitos. Depois vem a agressão ao tecido da bexiga, que pode causar a cistite hemorrágica. Depois caem os leucócitos e plaquetas, demonstrando a agressão à medula óssea. Depois vem a queda dos cabelos, evidenciando a agressão ao tecido capilar. Todos estes efeitos são graduados, calculados, e o efeito realmente desejado é o efeito em um grupo de células da medula óssea, os linfócitos, que são somente um dos tipos de leucócitos.
A medula óssea é responsável pela produção de várias linhas celulares, como as células vermelhas e as células brancas do sangue, estas últimas os leucócitos. A medula óssea também produz as plaquetas. Quando se dá uma alta dose de quimioterapia, a medula óssea para de funcionar. Assim como a agressão ao tecido gastro-intestinal ocorre nos primeiros dias, e a cistite hemorrágica vem logo a seguir, a agressão à medula óssea vem ali pelo 10º dia após a administração da ciclofosfamida. Em todos os protocolos em uso atualmente, nesta altura do tratamento é administrada uma medicação que estimula a medula óssea a voltar a funcionar, chamada filgrastim.
Após permanecer alguns dias totalmente parada, a medula óssea subitamente volta a funcionar. Como as células do sangue tinham sido extintas, da mesma maneira que acontece com os cabelos e pelos do corpo, o sangue precisa ser refeito a partir de novas células, ou seja, de células jovens. Estas células jovens saem aos milhões da medula óssea, e circulam pelo corpo da pessoa, podem ser medidas em exames, e podem ser colhidas em um procedimento que se faz em bancos de sangue. Estas são as células tronco hematopoiéticas, ou células tronco do sangue. Quando elas são coletadas e guardadas, podem ser reinjetadas no paciente após uma quimioterapia ainda mais intensa. Este segundo procedimento, a quimioterapia ainda mais intensa e a injeção das células tronco do próprio paciente, anteriomente coletadas, é o chamado trasnplante autólogo de células tronco.
O conhecimento médico estabelecido é que o efeito deste procedimento é devido à alta dose de quimioterapia, ou seja, ao grande efeito imunossupressor da quimioterapia. Digamos que no pré-transplante este efeito é xis, e no transplante inteiro é 3xis ou 4xis.
Porém, tanto no nosso caso que se curou com uma dose acidental de ciclofosfamida como em vários casos submetidos ao transplante e ao pré-transplante, para grande surpresa da comunidade neurológica internacional, tem se observado uma melhora de função neurológica. Uma certa proporção dos pacientes tem melhorado de déficits neurológicos de uma maneira antes não vista em Medicina. Pelo conhecimento neurológico estabelecido, isto não deveria ocorrer. A imunossupressão deveria simplesmente estabilizar a doença, que é o que nós dizemos aos pacientes que é o objetivo do tratamento.
Porém, existe uma proporção de pacientes que realmente melhoram, clinicamente e com o desaparecimento de lesões na ressonância magnética. Todos nós temos encarado estes fatos com cuidado, e temos evitado fazer alarde. Somente a imunossupressão não deveria causar melhora de função neurológica. Então, alguns pesquisadores desta área, conversando em sessões de debates em congressos, tem mencionado a possibilidade de que esta melhora possa de alguma maneira ser relacionada com a circulação de células tronco hematopoiéticas.
A questão tem conseqüências práticas na escolha exata de protocolos de tratamento, e conseqüências científicas, obviamente muito importantes. O tempo deverá responder.
Imunossupressão intensiva ou células tronco para esclerose múltipla e doenças imunológicas?
Prof. Dr. Paulo Rogério M de Bittencourt, PhD

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